Recuperação habitat da lontra
A lontra europeia (Lutra lutra) é uma espécie da família dos mustelídeos (Mustelidae) nativa de Portugal, comum em todo o território e que habita em quase todo tipo de habitats aquáticos. No resto do mundo, a lontra habita na Europa Ocidental, Ásia e Norte de África. No território nacional a lontra tem um estatuto de conservação “pouco preocupante” sendo o estatuto internacional “Quase ameaçada”.
Esta é uma espécie carnívora situada no topo da cadeia alimentar que baseia a sua dieta em peixes, crustáceos e também em pequenos mamíferos, aves, répteis e anfíbios. Como animal oportunista, alimenta-se de presas mais fracas ou doentes, contribuindo para o equilíbrio trófico nos sistemas aquáticos (Farinha, 2000).
Sendo um animal dependente dos meios aquáticos, é de prever que os habitats de zonas húmidas sejam cruciais para o seu desenvolvimento, o que leva a que a lontra apresente uma distribuição localizada (Ruiz-Olmo & Palazón, 1997). Esta espécie, para além da sua importância biológica, serve também como bioindicador da qualidade dos habitats aquáticos, devido à sua sensibilidade às alterações neles decorridas (Morales et al., 1998a).
Em meados do século XX a população de lontra na Europa diminuiu, devido ao excessivo nível de poluentes, atividades humanas e destruição de habitats ripícolas. Em Portugal, desde os anos 70 observou-se uma recuperação das populações de lontra, o que pode estar relacionado com a introdução e expansão do lagostim-vermelho (Procambarus clarkii) na maior parte do território nacional.
Recuperação do habitat
A vegetação de ribeira, incluindo silvados e outros arbustos, são os principais locais de refúgio ao longo dos cursos de água frequentados pela espécie. Esta vegetação também contribui para a irregularidade do canal do rio, a qual facilita a captura de presas pela criação de locais encaixados onde mais facilmente encurrala às presas.
Ao mesmo tempo, esta vegetação constitui a última barreira do rio que ajuda na filtragem dos contaminantes que possam ir a parar ao rio por causa principalmente da agricultura. Esta vegetação também ajuda a melhorar a infiltração da água, diminuindo a variabilidade do caudal no decorrer do ano.
Por isto, o projecto RIOS E RIBEIRAS irá executar ações com o objetivo de recuperar estas galerias ripícolas para recuperar as funções das linhas de água e promover a volta da lontra e outras espécies aos nossos rios.
Referências
Farinha, N.J.R.. 2000. A Lontra. João Azevedo Editor, Viseu. 98 pp.
Morales, J.J.M., Lizana, M., Gutiérrez, J. & Pedraza, E.D.. 1998a. Distribución espacial y ecología trófica de la nutria euroasiática y el vison americano en el Parque Natural de las Hoces del Rio Duratón (Segóvia). Colección Naturaleza y médio Ambiente. Caja Segóvia. Obra Social y Cultural. 55pp.
Ruiz-Olmo, J., Delibes, M. & Zapata, S.C.. 1998. External Morphometry, Demography and Mortality of the otter Lutra lutra (Linneo, 1758) in the Iberian Península. Boletín Informativo De La Sociedad Española Para La Conservación Y Estudio De Los Mamíferos. SECEM. 10, 239-251.